Aquis Querquennis

Arquitectura do Aquis (I): Construção e sistema defensivo - AquisQuerquennis 3D

Aquis3D 16 Maio, 2020 Sem comentários

É impossivel responder a todos as perguntas que apresenta um nascimento arquelogico únicamente apartir dos restos materiais e estructurais recuperados nesse mesmo local. Por isso, é necessario recorrer a descobrimentos arqueológicos paralelos de diversos tipos para poder realizar uma reconstrução histórica das estructuras estudadas.

Para este projecto tratamos de elaborar a virtualização dos diversos elementos que fazem parte da reconstrução da edificação de Bande baseando-se em uma diversa documentação aportada pela fonte colaboradora e no resto de provas histórico-arqueológicas disponiveis para poder ofrecer a voçes, nosso público objetivo, uma visão mais realista do modo em que se constroi o patrimonio virtual.

Neste artígo queremos centrar na descrição de uma forma resumida e geral como era a arquitectura, as técnicas constructivas e os diversos elementos que fazem parte da planta de acampamento Aquis Querquennis.

Materiais e técnicas constructivas

Os peritos dizem que as estructuras do recinto militar não mostram uma excesiva complexidade tanto no que se refere à técnica constructiva como as materias primas utilizadas. Asím, a maioría dos muros seríam elevados em granito local compactados com o uso de argilas, pois não está documentado pelo momento restos de cimento antigo de nenhum tipo.

Elementos como as armaduras dos telhados, portas ou contrajanelas eram realizados em madeira que procedía dos bosques da zona (como o carvalho).

Por último, a argila cozida permitia a fabricação de telhas planas e curvas que serviam para cubrir a maioría das edificações.

Acampamento romano de Aquis Querquennis (Vista aérea das excavações) Fonte: Exposição «Galicia Pétrea» na Cidade da Cultura (Monte Gaiás)
Acampamento romano de Aquis Querquennis (Vista aérea das excavações) Fonte: Exposição «Galicia Pétrea» na Cidade da Cultura (Monte Gaiás)

Planta e organização interna do local

O recinto de Bande apresenta em planta a mais típica forma das fortificações militares romanas dos primeiros séculos da nossa era: um rectángulo com esquinas redondas.

A disposição das vías no interior do recinto é muito canónica neste tipo de fortificações, onde se destingue elementos perimetrais e axiais:

  • O interuallum (intervalo) era um espaço de 11,72 m existente entre as muralhas e as fachadas das construções interiores. Ocupando parte de esta via larga transitaría a denominada uia sagularis ou caminho perimetral interior.
  • Em quanto às principais arterias viarias interiores, estavam presentes as vías praetoria e decumana (de uns 8 m de largura) e as vías principais e quintana (de 9 e 6 m de largura respectivamente).

Esta disposição divide o espaço interior em tres áreas nominais e cinco sectores de facto:

  • a praetentura, ainda não explorada arqueológicamente, sería a área frontal ou de vanguardia do recinto.
  • a retentura organizava-se de maneira parecida na rectaguarda do forte.
  • os latera praetorii constituiam o epicentro do forte.

O sistema defensivo

A fortificação militar romana da época do alto Imperial contava com a presencia de um sistema defensivo caracterizado pela presencia no exterior de um ou mais fossos e no interior de um parapeito habitualmente coroado por um gradeado que protegía o passo da guarda. As  excavações arqueológicas desenvolvidas até ao momento conseguiram estudar aproximadamente 225 m do perímetro defensivo do recinto, algo mais de um terço do seu total.

Maqueta a escala do acampamento romano de Aquis Querquennis (Barracões) Fonte: Exposição «Galicia Pétrea» na Cidade da Cultura (Monte Gaiás)
Maqueta a escala do acampamento romano de Aquis Querquennis (Barracões) Fonte: Exposição «Galicia Pétrea» na Cidade da Cultura (Monte Gaiás)

Sabe-se  que as defensas básicas do mesmo estavam integradas pelos seguintes elementos:

  • Fosso: tinha uma largura em boca de 5 m e a sua profundidade sería de 1,8 m em relação ao solo.
  • Berma: é o espaço que separa o fosso exterior da muralha interior. Tinha 1 m de largura.
  • Muralha: era uma construção de 3 m de largura levantada em pedra.

O núcleo da estructura estava composto por um potente aterro de mistura de pedras misturadas com argila local. A altura máxima conservada no momento de excavar era de 1 m.

Por um principio, o perímetro defensivo estava reforzado pela presencia de entre 12 e 14 torres, 8-10 de intervalo e 4 esquinais, das que foram excavadas respectivamente tres e tres.

  • De intervalo. Situavam-se em tramos regulares entre as portas e os esquinais. A sua planta baixa era maciça como a propia muralha na que se integravam.
  • Esquinais. Os dois exemplares estudados apresentam diferentes soluções:
    • Torre oeste.  Os seus lenzos exteriores (7-7,2 m) e interior (5,1 m)  arqueiam-se para adaptar à curvatura das muralhas.
    • Torre sul. Excavada na campanha de 2014, mas ainda não está publicada.
    • Torre norte. Desenha até ao interior de uma forma trapezoidal (5,1 m) e para o exterior.

Importante lembrar que o recinto contava com quatro accessos, dos quais foram excavados dois que se correspondem com as portas principalis sinistra –principal esquerda- e decumana –traseira-:

  • Porta principalis sinistra. O  conjunto estaba formado por um accesso de 11,67 m dividido pela metade por dois pilares (spinae) de 2 x 2 m. Uma pequena abertura na torre mais oriental permite deducir a existencia de um accesso ao nivel do solo, ao tempo que um pequeno muro no exemplar ocidental tal vez indique a presença de uma escada que comunicava o piso baixo da torre com o primeiro andar e/ou passo de guarda.
  • Porta traseira. Mais modesta sería esta porta, que tinha uns 14,4 m de fachada. Tambem nesta ocasião pode apreciar-se um muro medianeiro no interior de uma das torres que podría relacionar-se com uma escada. Finalmente, um canal procedente do interior do recinto atravessava o vão para o exterior.

Deve recalcar-se a monumentalidade destes accessos, nos que utilizavam materiais constructivos de boa qualidade, documentando-se um uso alargado de cadeiras de granito. É possivel que tenham  elementos decorativos que tivessem este aspecto, como podriam ser as molduras decorativas que se documentam em alguns paralelos arqueológicos no espaço entre pilares e o arranque das dovelas. Nas portas bíforas, na área entre os arcos e por debaixo do parapeito, era frequente que se situa-se uma inscrição comemorando a fundação do forte.

Reconstrução digital Aquis Querquennis – Fonte: Cristian Andrade
Reconstrução digital Aquis Querquennis – Fonte: Cristian Andrade

Em próximos artígos faremos tambem este tipo de análise para outras zonas de vital importancia do acampamento como pode ser:

  •     O quartel general
  •     O hospital militar
  •     O celeiro
  •     Os barracões dos soldados
  •     Oficinas e armazens
  •     Fornos, sanitas, cavaliças, etc.