Aquis Querquennis

Arquitectura do Aquis (III): Barracões dos soldados, oficina, zonas extramuros e povos. - AquisQuerquennis 3D

Mapa zonas Aquis querquennis
Aquis3D 16 Maio, 2020 Sem comentários

Neste post finalizamos a serie de artígos relacionados con a arquitectura que forma o acampamento arqueológico romano Aquis Querquennis. Pode-se ler os dois anteriores em:

Arquitectura do Aquis (I): Construção e sistema defensivo

Arquitectura do Aquis (II): quartel general, hospital e armazem.

Comentamos neste caso como era a arquitectura, materiais e planta de diversas zonas que nos falta por analizar como: barracões, oficinas, armazens, residencia do comandante, etc.

Os barracões dos soldados

Os barracões da tropa são lógicamente o tipo de edificação mais numerosos nos recintos militares. Estas edificacões costumam apresentar uma planta rectangular alargada dividida numa serie de divisões duplas. Estes espaços recebem o nome de contubernio, posto que devíam albergar a um contubernium (8 soldados), e estavam asim divididas porque o espaço frontal (arma) era usada como armazem ou espaço funcional e do fundo (papilio) como quarto e no final do edificio encontramos a residencia dos suboficiais, um espaço dividido em diversos quartos à volta de um corredor central.

Em Bande documentou-se cinco edificios que podiam entender-se como barracões para a tropa.

Todos estes edificicios seguem um padrão construtivo semelhante: tratam-se de construções rectangulares que se organizam em forma de U em volta de um patio central aberto. En volta do patio há duas filas de zonas divididas cada uma em dois quartos –armae (3,75 x 2,5 m) e papiliones (3,75 x 3,7 m).

Como referimos, as divisões estavam divididas em dois espaços por um muro pelo meio. O frontal estava aberto para o pátio interior, pois a sua fachada situa-se na porta que permite entrar às divisões, e servia como área de encontro, cozinha ou simplemente armazem. O traseiro – papilio- servia como quarto, estando as camas dos soldados fixadas às paredes do quarto.

Importante é a presencia do poço, que nos indica que, em boa medida, o abastecimento da agua dependía das chuvas recolhidas pelas canalizações que atravessam longitudalmente o própio pátio. Estas, estavam elaboradas em pedra e, em principio, sem cobertura.

Pelo que se refere aos teóricos alojamentos dos suboficiais, dividem-se em 6-7 (dependia dos barracões) pequenos quartos divididos apartir dum corredor central que liga com o recibidor da entrada em forma de um L. Não parece que as divisões que compõem as residencias dos suboficiais tivessem uns acabados melhores que a dos soldados. É possivel que nem todas as divisões restantes fossem quartos, podendo existir espaços de encontro ou de lazer que estaríam equipados com mobiliario diverso (armarios, arcões, mesas, cadeiras…).

Aquis Querquennis – Barracões dos soldados
Aquis Querquennis – Barracões dos soldados

A residencia do comandante

No modelo clássico de distribuição dos fortes romanos, os principias estavam ladeados pelos celeiros ou residencia do oficial em comando. Dado que a área norte dos lateros praetorii de Bande está sem ser explorada é possivel que a edificação que nos ocupa encontra-se aquí.

A guardia praetoria de época imperial segue o modelo das domus aristocráticas romanas. Tratam-se de residencias privadas, pelo que é de esperar um elevado grau de heterogeneidade, contudo, o mais frequente é que se organizem em volta de um patio con pórticos internos (atrium), uma serie de divisões de carácter público e privado. Asím, havía armazens, cozinhas, refeitórios, quartos… e alguns possuiam os seus própios banhos. Com frequencia, nestas edificações aparecem pavimentos mais ricos e elementos de decoração pitoresca.

Barracões e cavalariças

De acordo com os excavadores do local arqueológico, a fortificação de Bande estava ocupada por uma consorte legionaria composta por 6 centurias de 80 homens cada uma. Cada um dos barracões das tropas podíam receber a uma centuria, pelo que falta ainda uma edificação deste tipo por estudar. Se a fortificação segue um principio de simetría, esta construção encontra-se ao norte dos principia.

Parece claro que, em qualquer caso, estes novos barracões tinham uma planta muito parecida aos edificios descobertos até ao momento. É possivel tambem que nas fortificações encontrassem cavalariças para os animais já que sabemos que as legiões possuiam um pequeno destacamento de cavalaría e que nestas unidades cavaleiros e monturas costumavam compartir os mesmos barracões, de tal maneira que os cavalos ocupavam o recinto frontal e os cavaleiro o traseiro. Contudo, não se pode planear mais que a modo de hipótese a existencia em Bande de um esquadrão de cavalaria.

Oficinas  e armazens

Aquis Querquennis – Várias zonas dos barracões
Aquis Querquennis – Várias zonas dos barracões

O exército romano necessitava um constante fornecimento de equipos e peças. Por este motivo, com frequencia existíam nestas fortificações espaços para o armazenamento diferente dos cereais, asím como oficinas (fabricae) onde se desenvolviam diversas actividades artesanais ou industriais, normalmente relacionadas com o trabalho do metal, da madeira, o couro ou o osso. A fabricação ou reparação de pezas do equipo militar eran realizados nestes espaços.

Em relação com este espaço encontram-se uma serie de partições que bem servíam para o armazenamento, como para o desenvolvimento das respectivas actividades, caso no que podemos encontrar solos hidráulicos, ferramentas, pezas defeituosas, material de desperdicios…

Igualmente, existem provas que nos fazem pensar na presença nos fortes e fortalezas de depósitos para guardar armas, pelo menos no que se refere ao equipo comum e de reposição.

O espaço extramuros

As fontes antigas referem que um numero de civis seguía aos soldados romanos nos seus translados: escravos, familias, comerciais, artesanos, prostitutas… que devíam acampar sempre fora do recinto militar. Com a aparição das bases militares permanentes tambem consolidam-se os primeiros povos estabelecidos à sua volta até formar núcleos protourbanos denominados uici. Algumas vezes, estes povos situavam-se ao mesmo lado das fortificações, enquanto que em outros casos localizavam-se a uma certa distancia das mesmas, definndo uma área de exclusão militar.

Com o passo do tempo, se o uicus mostrava certa força no seu trabalho como centro redistribuidor de bens e serviços, podíam aparecer edificios de maior tamanho, como cereais, cavalariças, armazens, oficinas, estação viaria… ou alguma construção monumental ou de certo prestigio, como templos ou banhos.

O entorno da fortificação de Bande foi explorado unicamente de modo ocasional. Asím, a escassos 20 m ao sudeste do recinto, existem uma serie de estructuras de pouca importancia: alguns muros de pedra com pouca base que en planta desenham até quatro divisões, contando uma delas com uma casa no seu interior, pelo que podia servir como cozinha.

Excavou-se tambem perto da antiga igreja de Baños de Bande uma superficie de 20 x 10 m. recuperaram-se varios elementos constructivos e materiais romanos, que não se reconheceram aquí estructuras claras.

Aquis Querquennis – Porta decumana
Aquis Querquennis – Porta decumana

Perto desta zona encontraram-se umas estructuras que se identificam como parte da mansión de Aquae Querquernae, uma estação viaria referida pelo Itinerario de Antonino. Estas referem-se a uma edificação que na sua última fase mostra uma planta em forma de L inversa, dividida em varias partes, e um possivel patio con pórticos. Ali foram encontrados materiais que vão desde a época flavia (finais do século I d. C.) até ao século V d. C. Contudo, a reutilização de elementos constructivos do forte militar indica que estas estructuras seríam posteriores ao abandono do mesmo.

Perante a falta de provas, pouco é o que se pode aventurar respeito ao ordenamento do povo que crescia em volta do forte militar seguindo algum dos seus eixos viarios. Sem duvida, neste lugar havia um povo cujo sustento relaciona-se directamente com a presencia da unidade militar e isso implica a existencia de espaços residenciais, oficinas, lojas, tascas e prostíbulos.

A hipótese mais viavel parece ser a de que o núcleo de Aquae Querquennae começa a sua existencia durante o periodo de presencia militar na localidade, mas este não alcançava o seu momento máximo até á ida dos soldados. É muito possivel que no entorno do forte houvessem mais pequenos povos.

Por ultimo, com segurança teve que existir uma necrópolis na proximidade de alguma das vías locais. Apesar dos numerosos datos funerarios localizados na zona, desconhece-se a situação exacta deste nascimento, seja do momento da ocupação militar ou do periodo posterior.